O canal Warner Channel convidou um grupo de jornalistas de vários lugares do mundo visita os sets de gravações de “The following”, no Brooklyn, e esta visita nos rendeu muitas entrevistas interessante. Entre elas, a com Kevin Bacon feita pela repórter brasileira Thaís Britto do site http://oglobo.globo.com.
NOVA YORK - Tente se lembrar de um personagem interpretado
por Kevin Bacon no cinema. O desafio é facílimo, já que, com 35 anos de
carreira, o ator acumula mais de 50 filmes no currículo. Agora, faça um esforço
para pensar em um mocinho vivido por ele. À exceção do protagonista de
“Footloose” — que, sejamos sinceros, era um tanto rebelde —, foram poucos os
rapazes de bom coração defendidos por Bacon em sua trajetória cinematográfica.
Mas tudo está prestes a mudar. A partir de quinta-feira, às 23h, o ator não
apenas estará do lado bom, mas vai encarar seu primeiro protagonista na TV. Na
série “The following”, que será exibida pela Warner, ele é Ryan Hardy, um
ex-agente do FBI que precisa voltar à ativa quando um serial killer que prendeu
há 10 anos escapa da cadeia.
Bacon é mais um na longa lista de estrelas do cinema que têm
migrado para as produções televisivas. O ator estava mesmo empenhado na
mudança: em uma mesa redonda com jornalistas de vários países num quarto do
hotel Four Seasons, em Nova York, diz que vinha buscando o papel ideal na TV há
cerca de três anos.
— Li muitas coisas boas nesse período, mas não sabia se eram
personagens que eu gostaria de fazer por muito tempo. Não queria mais fazer o
vilão. E achei que esse tipo de herói, tão vulnerável, com um vazio na alma e
que luta contra tantas coisas, é ainda mais heroico do que seria se surgisse em
um cavalo branco — justifica.
Mas a demora em encontrar o personagem certo não tem nada a
ver com falta de qualidade, ele garante. A televisão começou a chamar a atenção
de Bacon por meio de sua mulher, a atriz Kyra Sedgwick. Premiada com um Emmy e
um Globo de Ouro por sua performance, ela foi, por sete temporadas, a protagonista
da bem-sucedida “The closer”. O ator conta que nunca foi um espectador assíduo
de TV mas, ao acompanhar o trabalho de Kyra, acabou descobrindo um desconhecido
novo mundo de ótimas produções.
— Cheguei a passar um fim de semana fazendo nada além de
assistir a “The wire” — lembra Bacon, citando produções como “A sete palmos”,
“Homeland” e “Breaking bad” como exemplos de séries que o influenciaram na
decisão de explorar um universo que, segundo ele, tem saído na frente: — Não
tenho lido bons roteiros de cinema. E, quando buscava pilotos de TV, era um
ótimo atrás do outro.
“The Following” começa com a fuga de Joe Carroll (James
Purefoy) da prisão. Dez anos antes, Ryan Hardy (Bacon) foi o único agente capaz
de descobrir que o aparentemente pacato professor de inglês era o assassino de
14 estudantes. Apesar do feito, nos dias atuais vemos Ryan vivendo uma vida sem
perspectivas, num apartamento imundo e bebendo muito mais vodca do que o
indicado pelo bom senso. É quando o agente é chamado de volta para ajudar na
captura do serial killer.
No desenrolar da série, veremos que a relação entre os dois
é bem mais complexa do que a de mocinho e bandido. Ryan usa um marca-passo
graças a um ferimento sofrido em seu último embate com Joe. E ainda há uma
mulher no meio: o agente chegou a ter um caso com Claire Matthews (Natalie
Zea), a mulher do assassino.
Até o fim de janeiro, o elenco tinha gravado cerca de 14
episódios. Bacon já teve tempo de sobra, portanto, para encontrar os prós e
contras da rotina na TV. A rápida preparação para cada episódio e a variedade
de diretores são o lado mais complicado, na opinião do ator. Mas a profundidade
que o personagem pode alcançar no decorrer de uma série faz o trabalho bem mais
interessante:
— É legal essa criação a longo prazo do personagem, mas é
muito diferente. Quanto assisti ao piloto, fiquei decepcionado com a minha
performance. Estou acostumado a avaliar o todo. Num filme, por exemplo, aquela
seria toda a minha atuação. Depois pensei: “É só o começo”. A cada semana mostraremos
mais uma nuance dele, vamos retirando as camadas. Espero que o público queira
saber mais sobre ele.
Bacon se define como “um ator que se prepara muito”, e para
viver Ryan não foi diferente. No início do processo, bombardeou o criador da
série, Kevin Williamson, com perguntas. Depois, veio o dever de casa.
— Fui ao FBI e assisti a documentários. Mas, para mim, o
mais importante é tomar decisões pessoais a respeito desse cara. Por exemplo,
qual é a religião dele? Como é sua família? São coisas que provavelmente nunca
aparecerão na série. Ele é vegetariano? Prefere escrever a lápis ou caneta?
Qual seria o tipo de música que ele escutaria? Esse tipo de coisa — explica,
deixando claro que os 35 anos no ramo não diminuíram seu prazer: — Amo atuar. O
período entre o “ação” e o “corta” ainda é uma das melhores experiências da
minha vida.
Kevin Williamson, o criador e produtor-executivo da série —
que, aliás, trouxe ao mundo produções como “Dawson’s creek” e “The Vampire
diaries” —, não hesita ao apontar o que diferencia “The following” de outras
atrações do gênero.
— Kevin Bacon! — diz, rindo.
Brincadeiras à parte, a escalação de uma estrela de cinema é
um ótimo chamariz para a nova atração, mas outro fator também promete atrair
espectadores: uma profusão de serial killers, objetos de verdadeira adoração na
TV americana (veja box na página anterior). Williamson admite ser fascinado por
eles — ele é roteirista dos filmes da franquia “Pânico”.
E Joe Carroll, o principal vilão da história, não é um
assassino em série qualquer. No primeiro episódio, o público descobre que ele é
o líder de uma espécie de seita e, da prisão, recrutou sabe-se lá quantos
seguidores para colocar em prática seu plano, ainda desconhecido. Tudo isso
baseado em textos de Edgar Allan Poe, ídolo maior de Carroll e sua trupe.
O detalhe é que, por mais louco que possa parecer, o enredo
não está tão longe da realidade. Williamson foi ao FBI e descobriu: existem
cerca de 300 assassinos em série em ação — e à solta — nos EUA. Para o
britânico James Purefoy, esse perigo iminente é uma das causas do fascínio que
o gênero provoca:
— Você pode estar sentado tendo uma conversa civilizada com
alguém e aquela pessoa estar, na verdade, fantasiando em matar você. Acho que é
tão fascinante e assustador porque é muito real. Serial killers não são como
vampiros e zumbis. São reais e estão por aí. Trezentos deles, segundo o FBI.
As cenas violentas — que, de fato, são muitas, especialmente
no primeiro episódio — causaram polêmica antes da estreia. O ataque à escola
Sandy Hook, que matou mais de 20 crianças na cidade de Newtown, em dezembro,
trouxe à tona o debate sobre o excesso de violência na TV, no cinema e nos
videogames.
— Sim, é uma série violenta. E isso vem sendo feito há 2.500
anos desde o nascimento da arte dramática na Grécia. Desde então, nós
assistimos a violência. Sabemos porque este assunto está em voga agora. Se “The
following” fosse lançada daqui a seis meses, isso não seria discutido. Há
violência em várias atrações. Não é nenhuma novidade — opina Purefoy.
Sobre a polêmica, Williamson e Marcos Siega (que também é
produtor executivo e diretor da série) defendem que a trama é, na verdade, uma
história de amor. E esperam que o público consiga ver, além da violência, o
desenvolvimento dos personagens que criaram. Nos EUA, é a primeira vez que um
canal de TV aberta exibe uma produção com níveis tão altos de brutalidade. Mas
os produtores dizem que não precisaram mudar nada, e nem sofreram qualquer
censura no que diz respeito ao sangue. Mas quando se fala de sexo...
— Às vezes temos uma ideia incrível para uma cena de
assassinato, gravamos e pensamos: “Nunca vão nos deixar passar isso”. E então,
quando o canal vê o episódio, manda uma mensagem: “Será que vocês podem cortar
aquela cena em que aparece um lado do seio da atriz?”. E nós ficamos pensando:
“Mas e aquela parte da faca no pescoço dela?”. Sobre isso, não falam nada —
conta Siega, em tom de piada.
Williamson complementa:— É muito estranha a forma como lidam com sexo e violência neste país...
A dupla explica ainda que a estrutura da série não é do
“assassino da semana”, embora haja, sim, uma grande contagem de corpos. Para
que o público não se perca nos dez anos que separam a captura de Joe e sua
fuga, os produtores decidiram usar flashbacks, evitando discursos forçados ao
introduzir o passado dos personagens. Outro recurso importante é a trilha
sonora, resquício do passado de Siega como diretor de videoclipes:
— Queríamos algo pesado, um som masculino. E, então,
pensamos em rock. Num episódio, temos Sepultura fazendo um cover de Massive
Attack. Além disso, queríamos uma pulsação ditando o ritmo das cenas, o que tem
a ver com a condição cardíaca de Ryan. Então, na trilha original, às vezes
ouve-se algo como um coração batendo — explica Siega.
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